CAPÍTULO
4
POR DENTRO DOS
NÚMEROS DE UMA EMPRESA
Se
há uma coisa fundamental e imprescindível para a condução de sua empresa, esse
algo é, sem dúvida, a correta gestão econômico-financeira do negócio.
Infelizmente grande parte dos empreendedores a relega para um plano secundário,
não por desejo, mas por falta de conhecimento. Tal fato não é necessariamente
uma surpresa porque a maioria da população passa grande parte da vida adulta
lutando com juros do cheque especial, parcelas do cartão de crédito,
prestações, falta constante de dinheiro e por aí vai. Então é natural que o
erro persista na empresa porque não há em nossa cultura uma determinação mais
efetiva em controlar as receitas e as despesas no dia a dia.
Não
fui exceção à regra e reconheço mea-culpa. Logo que comecei a trabalhar, com 19
anos, fui a uma concessionária de automóveis e comprei, em 24 parcelas sem
entrada, um fusca com seis anos de uso. Detalhe: ganhava quase 500 dinheiros
líquidos por mês e o valor da prestação era de 469 dinheiros. Digo dinheiros
porque não lembro a moeda da época, que mudou de nome inúmeras vezes por causa
da inflação. Muitas das dificuldades financeiras pelas quais passei foram por
“maltratar” o dinheiro, que vinha relativamente fácil e que gastava sem maiores
cuidados. Anos depois, comprei uma área num condomínio de chácaras que foi uma
furada, um terreno numa pequena ilha sem ter pelo menos um barco inflável,
apliquei na bolsa (aqui tive sorte e ganhei um pouco de dinheiro), comprei uma
Alfa TI4 com quase dez anos de fabricação e com somente 10.000 km rodados e,
como não tinha mais espaço na garagem, construí um abrigo para ela. Quando,
afinal, consegui me desfazer desses pseudo-investimentos, perdi dinheiro, menos
na Alfa que consegui vender pelo mesmo valor que paguei, corrigido. Já aqueles
imóveis foram praticamente dados porque os custos de manutenção, IPTU e
condomínio, de um único ano eram maiores que os seus valores no mercado. Como
dinheiro não cai do céu o prejuízo foi certo.
O
contraponto é a história de um senhor, na casa dos oitenta, avô do marido de
uma de minhas sobrinhas. Ele começou a trabalhar com 14 anos ajudando numa loja
de ferragens. Com 18 já tinha comprado dois terrenos. Formou-se em
contabilidade e, trabalhando como empregado, foi responsável pelo crescimento
de uma das maiores redes de varejo do país. Pessoalmente chegou a ter 79
imóveis em Curitiba, totalizando mais de 250.000 m² de área urbana em bairros
bons, antes de distribuir grande parte aos filhos. Hoje, gozando merecida e
tranquila aposentadoria, gosta de contar sua vida com o fito de ensinar os
jovens a poupar e pensar no futuro.
Cometi
muitos enganos em relação ao dinheiro, como já disse. Entretanto, se de um lado
não fui cuidadoso nas aplicações, por outro só pude abusar da sorte porque
tinha lucro em meu negócio próprio. Nunca descuidei do ponto de equilíbrio, do
levantamento correto de custos fixos e variáveis, da formação de preços de
venda e dos controles quantitativos de todos os produtos, em todas as etapas:
do recebimento, passando pela produção, às vendas. É bobagem pensar que somente
um bom produto, um bom serviço, um bom ponto comercial, entre outros, são
suficientes para obter sucesso empreendendo. Tudo isso é importante e soma para
sua empresa ter um bom faturamento, mas o resultado financeiro é certamente
menor do que poderia ser se parte significativa do lucro escorre pelo ralo
obscuro do descontrole dos números. É possível lucrar mais com o mesmo volume
de vendas cuidando dos custos.
A
razão principal para ter e operar sua própria empresa é tirar para si o maior
lucro possível. Ele é a seiva que nutre e robustece o patrimônio dos
empreendimentos bem sucedidos. Você também tem responsabilidades para com os
clientes, os empregados e a comunidade, pois a atividade da empresa influencia
as vidas de todas as pessoas. Mas, foi você quem assumiu o risco de investir
capital e, portanto, sua finalidade principal é tomar conta deste capital e
usá-lo de maneira mais lucrativa possível.
Muita
gente fica pouco à vontade com números e simplesmente os ignoram nos negócios.
Erro fatal! Outros procuram socorro nas dezenas de programas de computador
(softwares) existentes no mercado. Embora as empresas não sejam exatamente
comparáveis, os programas “de prateleira” são feitos para atender diversos
tipos de atividades comerciais sendo, portanto, genéricos e prolixos, o que só
faz aumentar as dificuldades das pessoas. Levando isso em consideração vou
tentar apresentar os conceitos fundamentais de maneira simples, didática e
objetiva. São eles, os conceitos, que vão lhe permitir diagnosticar e curar
eventuais problemas em sua empresa. Conceitos
determinam as causas, números refletem os sintomas. Para fazer a parte chata
— os cálculos — use planilhas eletrônicas EXCEL.
Os
conceitos adotados de gestão econômico-financeira de uma empresa são
consagrados, podendo o critério ser usado em todos os ramos do comércio
varejista. O fundamental é você compreendê-los
para saber onde e como mexer, sempre e quando necessitar. Além disso, as
informações que vai encontrar são valiosas para a confecção do Plano de
Negócios de seu futuro empreendimento, qualquer que seja ele.
O
PONTO DE EQUILÍBRIO
O lucro operacional é o sustento de sua
empresa. Ele depende por um lado do volume e do preço de venda e, por outro,
dos custos. Os custos podem ser classificados como fixos e variáveis. Os custos
fixos não variam com o faturamento da empresa, ou seja, são os custos que terão
que ser cobertos mensalmente mesmo que a empresa não venda nada. Entre eles
podemos citar: aluguel, condomínio, salários, seguros, energia elétrica, etc.
Os custos variáveis são os que variam diretamente em função das vendas e são
representados, basicamente, pela matéria prima, insumos, embalagens, comissões,
etc. Os custos variáveis são nulos se a empresa tiver faturamento também nulo.
Um bom instrumento para estudar o
efeito que os diferentes custos, as condições operacionais, a formação dos
preços de venda e outras políticas administrativas exercem sobre os lucros é a
técnica do ponto de equilíbrio (PE).
A
definição do PE é óbvia: é o valor
em que o faturamento proporciona uma receita que seja suficiente para cobrir
todas as despesas da empresa, sem que haja lucro ou prejuízo.
O
passo inicial para quem pretende empreender é fazer simulações usando a
ferramenta PE. Com ela, sem gastar nada além de seu tempo, você terá uma boa
idéia dos possíveis resultados financeiros do negócio e vai obter informações
de grande valia para definir as melhores escolhas, notadamente no que se refere
aos custos fixos do empreendimento. Quanto mais próximos da realidade forem os
valores lançados, obviamente mais verdadeiras serão as projeções financeiras do
novo negócio. Nas empresas já em operação, a técnica do PE pode orientar
decisões administrativas feitas através de uma série de análises baseadas em suposições
diversas sobre custos e outros fatores. Assim, é preciso montar uma planilha
com todas as despesas esperadas ou efetivas, dependendo do caso.
Fórmula
para encontrar o Ponto de Equilíbrio
onde:
CF ⇨ gasto mensal com os custos fixos em R$
CV/V ⇨ razão entre os custos variáveis e as vendas
TV ⇨ soma dos percentuais das taxas sobre as vendas
OS
CUSTOS FIXOS
Eles
são a razão maior de descontroles e dificuldades nas empresas porque constituem
valores de pagamento mensal obrigatório, mesmo sem haver vendas. Para
simulações, estime os valores tendo por base informações conseguidas em lojas
atuando no mesmo ramo de atividade e similares em tamanho e localização.
• Salários e encargos
trabalhistas;
• Pró-labore ou
quanto você precisa ou deseja receber da empresa pelo seu trabalho. Observe que
muitas franquias omitem este valor para efeito de cálculo da rentabilidade e do
prazo de retorno do investimento. Dessa forma, obviamente, a rentabilidade será
maior e o prazo de retorno menor. Se você verificar isso, peça para
esclarecerem como e do que você vive neste período;
• Contabilidade e
advogado: o contador é um prestador de serviços terceirizado que recebe
mensalmente para fazer toda a escrituração contábil, fiscal e trabalhista da
empresa. Às vezes o próprio escritório de contabilidade possui advogado
trabalhista para atuar em eventuais ações;
• Custo fixo não
listado ou específico: inclua alguma despesa fixa específica como, por exemplo,
leasing de equipamentos. Lembrete: se você fizer leasing não deve considerar a
depreciação dos equipamentos que, neste caso, são alugados;
• Depreciação de
equipamentos, instalações e uniformes: este item é constantemente esquecido na
composição dos custos fixos das micro, pequenas e até médias empresas. Para
explicar o que é isso, vamos recorrer a um exemplo: imagine que você tenha
investido R$ 100.000,00 em equipamentos e instalações de sua franquia e que o
retorno do investimento esperado ocorra em 30 meses. Findo este prazo, tudo
aconteceu conforme o previsto e você está feliz com os 100 mil de volta na
poupança. Para simplificar, não vamos considerar a inflação e os juros devidos.
Meses após ter recuperado seu investimento, a loja precisa de uma reforma,
alguns equipamentos precisam ser substituídos e você não foi orientado para
considerar a depreciação, que nada mais é que uma provisão de recursos, da
empresa, para estas finalidades. E agora? Você volta a por a mão no bolso para
pegar parte daqueles 100 mil e fazer as reformas? Talvez sim. Talvez não.
Se quando você
comprou a franquia o fez pensando em operar a loja somente no prazo contratual,
sem desejo de continuidade, não considere a depreciação. Sem ela, o retorno do
investimento é mais rápido. Todavia, o normal é pensar em ter a franquia ou
negócio próprio por muito tempo. Assim, faça provisão para reformas e eventuais
trocas de equipamentos. É mais sábio. Considere, neste caso, 10% do valor
investido por ano para a depreciação. Em nosso exemplo seriam R$ 833,00/mês e
não esqueça de corrigir anualmente este valor pela inflação ocorrida.
Há uma maneira mais
exata para calcular o valor da depreciação, equipamento por equipamento: pegue o
preço atual do bem, diminua o valor que pode ser obtido se for vendido como
usado e divida o resultado pelo número de meses da vida útil estimada;
•Aluguel + iptu + IR:
valor despendido pela locação do imóvel onde se encontra a franquia. Inclua o
valor do iptu e imposto de renda recolhido em nome do locador;
• Condomínio + fundo
propaganda: considere valor para este item somente se a loja for de shopping ou
se, de alguma forma, tiver despesa com condomínio no negócio;
• Água + gás +
energia elétrica + telefone: valor médio gasto ou estimado dos últimos seis
meses com estes itens;
• Internet + ecad +
tv por assinatura: normalmente estes itens possuem valor fixo pelo período de
um ano. Cabe aqui informar o que vem a ser ECAD (Escritório Central de
Arrecadação e Distribuição): é uma associação civil privada, prevista no artigo
99 da Lei Federal nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, com a finalidade
exclusiva de arrecadar e distribuir a receita auferida, a título de direitos
autorais, decorrentes da execução pública de obras musicais e de fonogramas, em
todo território nacional. Em outras palavras, se a loja possuir televisão ou
som ambiente para distrair os clientes, é necessário recolher mensalmente uma
taxa para o ECAD;
• Aluguel de máquinas
de cartão de crédito, débito e tickets: o comerciante normalmente arca com o
aluguel dos terminais eletrônicos das operadoras. Lance aqui o valor do aluguel
mensal dos equipamentos;
• Seguros + alarme
monitorado: valor pago para segurar a loja contra incêndio, roubo, responsabilidade
civil, etc. Inclua neste item, se tiver, despesas com empresa de alarme
monitorado;
• Royalties: se o
franqueador cobrar um valor fixo mensal a título de royalties, será um custo
fixo. Se o valor devido for um percentual sobre o faturamento, será um custo
será variável;
• Taxa de propaganda da franquia: aplique o
mesmo conceito do item anterior para o valor pago a um fundo de propaganda
institucional da marca, chamado normalmente taxa de publicidade;
• Manutenção em
geral: as manutenções são normalmente corretivas e, portanto, acontecem
aleatoriamente no tempo. Assim sendo, são despesas variáveis. Entretanto como
são corriqueiras nas empresas e desejamos definir um PE tão próximo da
realidade quanto possível, é recomendável ter-se um valor mensal para este
item, que deve incluir também as manutenções preventivas. Tudo o que precisar
ser substituído em equipamentos ou instalações, como lâmpadas, por exemplo, é
despesa de manutenção. Embora, tecnicamente, gastos com material de limpeza e
de escritório não sejam manutenção, considere-os neste item.
Os custos variáveis
Eles são representados pelas matérias
primas, insumos, embalagens, materiais de
consumo indireto, etc e só existem, tecnicamente, se houver vendas. Não
confunda com o estoque, que é constituído de todos aqueles itens e é parte do capital
de giro da empresa. O estoque deve ser considerado como um elemento de reserva,
tal e qual a água em uma caixa d’água numa residência.
O item materiais de consumo
indireto deve incluir todos os produtos necessários para a atividade
comercial da empresa. São itens de consumo diferenciado e/ou variado entre os
clientes. Em um restaurante, por exemplo, podemos citar guardanapos, temperos,
etc. A melhor forma de determinar seus valores para a composição do custo
variável unitário é tomar a quantidade média mensal de compra de cada um e
dividir pela quantidade média mensal de vendas dos produtos. O período a ser
considerado deve ser anual para eliminar eventuais sazonalidades. Então, se a empresa
teve uma média mensal de compra de 3 caixas de guardanapos, com 5.000 folhas
cada, e vendeu uma média de 4.000 sanduíches por mês, temos um consumo de 3,75
guardanapos por sanduíche, que arredondamos para 4 na hora de fazer os cálculos
dos custos unitários dos sanduíches.
3 x 5.000
/4.000 = 3,75 = 4
É
preciso montar uma tabela com todos os itens que compõe os custos variáveis da
empresa, para determinar o custo variável unitário de cada produto.
A
RELAÇÃO CUSTOS VARIÁVEIS SOBRE VENDAS
O
valor desta divisão pode ser considerado constante para efeito de simulações. A
bem da verdade, quando sua empresa já tiver alguns anos, você verificará que
esta razão variará pouco por causa da indexação existente entre os preços de
compra e venda. Uma gestão competente pode proporcionar mudanças
significativas, que só vão acorrer com a redução efetiva dos custos variáveis,
desde que mantidos os mesmos preços de venda e qualidade de produto. Em outras
palavras, se um determinado produto custa R$ 1,00 e é vendido por R$ 2,00, a
razão CV/V é 0,5. Se o custo subir para R$ 1,50, o preço de venda será R$ 3,00,
mantendo o mesmo fator 0,5. Se, entretanto, o custo baixar para R$ 0,80 e o
preço de venda for mantido em R$ 2,00 há mudança do valor da divisão para 0,4,
que trás ótimas consequências para a empresa.
Se
você estiver elaborando um Plano de Negócios, estime as vendas. Caso a empresa
já esteja operando, lance o faturamento.
AS
TAXAS SOBRE AS VENDAS
São
taxas sobre vendas os royalties (se o franqueador cobrar um percentual sobre o
faturamento bruto), a taxa de propaganda (se o franqueador adotar o mesmo
conceito anterior ou se você estipular um percentual para investir em
marketing), o imposto sobre vendas (seu contador pode informar as alíquotas).
EXEMPLO:
CF = R$ 30.000,00
CV/V = 0,25
TV = 8% (royalties) + 5% (empresa enquadrada
no SIMPLES) = 13/100 = 0,13
PE
|
=
|
30.000
|
=
|
R$
48.387,00
|
1 - (0,25 + 0,13)
|
Fórmula para encontrar a Margem de Lucro (ML)
ML
= 1 – (CF/V + CV/V + TV)
onde:
CF/V ⇨ razão entre custo fixo e volume de vendas
CV/V ⇨ razão entre custo variável e volume de vendas
TV ⇨ soma dos percentuais das taxas sobre o volume de vendas
EXEMPLO
ML = 1 – (0,45
+ 0,25 + 0,08 + 0,05) = 0,17
ML = 0,17 x
100 = 17%
Lucratividade:
é a margem de lucro (ML) líquido obtido mensalmente em seu negócio.
Valor
mensal do lucro obtido: é o dinheiro que você coloca no
bolso para pagar ou fazer investimentos. Lembre que não tem nada a ver com o
pró-labore, que é uma remuneração fixa que a empresa lhe paga por trabalhar
para ela.
Rentabilidade
sobre investimento: é o percentual líquido do retorno de
seu investimento.
RENTABILIDADE =
(LUCRO / INVESTIMENTO) x 100
Prazo
de retorno do investimento: é o tempo, em meses, que demora
em você ter de volta o dinheiro aplicado em seu negócio próprio. Ao final você
deverá ter o capital inicialmente investido acrescido da inflação, no mínimo.
RETORNO =
INVESTIMENTO / LUCRO
Já consideramos os custos fixos e os
custos variáveis. Também já podemos determinar os custos variáveis unitários de
cada produto, somando os custos que compõe cada um deles. Com estas informações
podemos calcular os preços de venda que serão necessários praticar no negócio.
A formação dos preços de venda
A forma mais usual para se obter o
preço de venda (PV) no comércio é a utilização de um fator divisor ou
multiplicador*. Esse fator é fortemente influenciado pelos custos fixos e
volume de vendas, como veremos. A melhor maneira de decifrar aquelas
implicações é analisar a fórmula para se encontrar o fator divisor (FD):
FD = 1 – (CF/V
+ TV + ML)
onde:
FD ⇨
fator divisor
CF/V ⇨
razão entre os gastos com os custos fixos e o volume de vendas
TV ⇨
soma dos percentuais das taxas sobre o volume de vendas
ML ⇨
percentual da margem de lucro desejada
EXEMPLO
CF/V = 30.000/66.000 = 0,45
TV = 8%
+ 5% = 8 + 5/100 = 0,13
ML = 10% = 10/100 = 0,10
FD = 1 – (0,45
+ 0,13 + 0,10) =
0,32
Note que a soma de todas as taxas com
a margem de lucro é menor que o valor 0,45, ou seja, menor que a relação entre
custos fixos e vendas. Há outra consideração importante: a única parte da
fórmula que o administrador do negócio pode modificar por ser de sua exclusiva
competência, além da margem de lucro, é esta razão entre os custos fixos e o
volume de vendas. As outras parcelas da fórmula são fixas, imutáveis, e
intocáveis pelo gestor.
Uma vez obtido o FD, podemos calcular o
preço de venda de qualquer produto, desde que tenhamos seu custo unitário. Para
facilitar o entendimento do conceito vamos supor que um produto custe R$ 1,00. Dessa
forma, seu preço de venda (PV) deverá ser:
PV = R$ 1,00 /
0,32 = R$ 3,13
Observe que quanto MAIOR for o fator divisor, menor será o preço de venda que é
necessário praticar e maior será a competitividade da empresa. Uma estratégia
usada com freqüência para colocar ou aumentar a participação de um produto no
mercado é sacrificar sua margem de lucro por um tempo. Veja como ficaria o
preço de venda com ML igual a zero:
FD = 1 – (0,45
+ 0,13 + 0) = 0,42
PV = R$ 1,00 /
0,42 = R$ 2,38
Houve uma redução no PV de 32%, o que
torna o produto mais agressivo no mercado. Se o intento do aumento de vendas
for conseguido, paulatinamente a relação CF/V vai diminuindo e a margem vai
sendo recuperada. Veja o que acontece se as vendas aumentarem de R$ 66.000,00
para R$ 76.000,00:
CF/V = R$
30.000 / R$ 76.000 = 0,39
O aumento das vendas em R$ 10.000,00
mensais não só recuperou como superou a margem de lucro estipulada de 10%.
Vamos ver porque, considerando que desejamos manter o fator divisor em 0,32:
0,32
= 1 – (0,39 + 0,13 + ML)
0,32
= 1 – (0,52 + ML)
ML
= 0,16 = 0,16 x 100 = 16%
Agora
imaginemos que não houve aumento das vendas, ainda, e precisamos mexer na outra
variável, os custos fixos. O administrador fez alguns ajustes e conseguiu
baixar em R$ 4.000,00 o dispêndio mensal:
CF/V
= R$ 26.000 / R$ 66.000 = 0,39
Foi obtido o mesmo resultado
proporcionado pelo incremento nas vendas em R$ 10.000,00. Na vida real
poderíamos não ter conseguido aquele aumento expressivo nas vendas e nem
conseguido reduzir tanto os custos, mas o resultado final poderia praticamente o
mesmo se as duas variáveis modificassem: menos R$ 2.000,00 nos custos fixos e
incremento de R$ 4.000,00 nas vendas.
CF/V
= R$ 28.000 / R$ 70.000 = 0,40
Dessa
forma teríamos várias vantagens: o produto vendendo bem e com maior
participação no mercado porque o preço ficou mais competitivo; os custos fixos
um pouco menores beneficiando toda a empresa; a margem foi recuperada.
Isso
prova que é preciso saber onde e como
mexer. CQD (conforme queríamos demonstrar).
MUITO IMPORTANTE:
se as vendas estiverem baixas, próximas do ponto de equilíbrio, você precisa
tomar essas atitudes, pela ordem:
1.
Reduza os custos fixos;
2.
Mantenha os preços de venda;
3.
Use de criatividade para aumentar as vendas.
Normalmente
o mesmo FD é usado meses a fio, pois os valores das parcelas de sua fórmula ou
são fixos (taxas) ou pouco mudam. Isso acontece porque as alterações que mais o
influenciam (custos fixos e vendas) variam aproximadamente na mesma proporção
ao longo do tempo, pois quase tudo é regido pelo mesmo indexador, a inflação.
Além disso, um mercado financeiramente estável, como o do Brasil atual, não
aceita variações de preço corriqueiras. Para a maioria dos produtos de revenda,
comuns em lojas de qualquer rede, é adotado um divisor fixo e usual no mercado
que proporciona uma margem bruta de 100% para chegar-se aos preços ideais.
*
o fator multiplicador (FM) pode ser encontrado facilmente depois de conhecido o
fator divisor:
FM = 1 / FD
OUTROS
CONTROLES FINANCEIROS INDISPENSÁVEIS
O Livro Caixa é um controle financeiro
importante e corriqueiro nas empresas. Desde o quitandeiro, que anota num
caderno as vendas e os pagamentos, até as grandes corporações, todos necessitam
dele. É tão simples que em qualquer papelaria você pode comprar, quer na forma
de livro, quer na forma de um programa de computador.
Uma ferramenta derivada do livro-caixa é o Fluxo de
Caixa, que retrata os recebimentos e pagamentos da empresa durante um período
determinado, normalmente um mês. Sua administração é simples e ajuda a prever
as futuras necessidades de dinheiro ou a disponibilidade de capital para
investimentos.
O Fluxo de Caixa tem uma conotação parecida com o
talonário de cheques de uma pessoa física. No início do mês ela lança o crédito
do salário recebido e ao longo dele vai emitindo cheques para pagar as contas,
cuidando para não entrar no vermelho. Se quiser trocar de carro, por exemplo,
vai precisar fazer uma projeção das receitas e dos gastos, incluindo eventuais
cortes em algumas despesas para poder comprar o carro novo.
Numa empresa há maiores
quantidades e variedades de receitas e despesas, mas o princípio é o mesmo. A
previsão do Fluxo de Caixa feita no Plano de Negócios deve ser confrontada com
os números reais obtidos após o início das operações. Analisando os números
reais com os previstos você poderá fazer estimativas mais precisas para os
meses seguintes. Lembre que saídas de dinheiro inesperadas exigem uma revisão
imediata do Fluxo de Caixa.
Para empresas já operando considero muito útil e
eficaz a análise dos Balancetes para a tomada de decisões. Vou tentar explicar
a diferença conceitual, com o Fluxo de Caixa, através de um exemplo: embalagens
personalizadas são itens que requerem compras em grandes quantidades, quer por
exigência do fornecedor, quer pela economia de escala obtida. Então, vamos
imaginar que a empresa tenha comprado 50.000 embalagens de sanduíche a um custo
total de R$ 15.000,00 pagos à vista. No Fluxo de Caixa este valor vai aparecer
na sua totalidade uma única vez, embora a empresa use somente 6.000 embalagens
a cada mês. Ou seja, é provável que neste mês o Fluxo de Caixa seja negativo,
mas isto não significa que a lucratividade seja má ou que o negócio é ruim. O
Fluxo de Caixa diz simplesmente que a empresa gastou mais do que arrecadou no
mês, nada mais.
Já o Balancete vai mostrar o valor referente ao
consumo das 6.000 unidades. Aqui sim, no Balancete, a lucratividade do negócio
aparece mês a mês e você deve agir se o valor for negativo. Acredite, se o
Balancete apresentar lucratividade negativa (prejuízo) meses a fio e nada for
feito, o fim estará próximo.
Contas a pagar/receber e
controle de estoque do almoxarifado podem ser feitos em micro-empresas por
pasta sanfonada A-Z (1-31) e fichas dos produtos. Pequenas e médias empresas
devem usar programas simples e baratos de computador encontrados também em
livrarias e papelarias.
O controle de estoque de loja requer conceitos e
critérios diferentes em função do tipo de negócio. Uma loja de tintas, por
exemplo, tem o controle de loja muito simplificado se o empreendedor
informatizar seu ponto de venda, adotar um software específico e registrar
todas as vendas e reposições de estoque no sistema. Pode fazer inventários (que
é a contagem do estoque físico) semanais, quinzenais ou mensais.
Já um restaurante fast-food precisa um programa de computador que considere as
receitas dos produtos vendidos e efetue as baixas respectivas nos estoques de
loja. Isso é feito com planilhas de controles quantitativos. O inventário deve
ser diário e, se necessário, a cada troca de turno. Existem algumas formas de
simplificar e agilizar este procedimento como boa arrumação, paletização e
porcionamento dos insumos.
Este capítulo apresentou
diversos conceitos e instrumentos que podem ser utilizados para interpretar os
dados financeiros de sua empresa, bem como gerir suas modificações. Mas, convém
lembrar que para compreender e empregar esses instrumentos com êxito é preciso
mais que o conhecimento de como eles funcionam. Além da disciplina necessária
para obtê-los, também é essencial saber onde e como devem ser usados, quais as
suas qualidades e quais as suas limitações. A teoria sem a prática é apenas um
prazer íntimo; a prática sem a teoria é uma grosseira simplificação.
Finalizamos com a constatação
do escritor Luís Fernando Veríssimo, pinçada de um texto de suas colunas de
jornal: “Quem foi que disse que a natureza fala Matemática? Sir Isaac Newton,
se não estou enganado, o que é pouco provável. Fosse quem fosse, queria dizer
que a Matemática é a linguagem das coisas, portanto o oposto da linguagem
humana. Na língua dos números não existe retórica, nem jargão, nem duplo
sentido e nem diálogo. Você pode contestar os números com outros números, mas
não pode tentar ser mais brilhante ou mais convincente, ou questionar seu
caráter e suas motivações. Com números não tem conversa”.
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